Acusações mútuas de manipulação e ingerência marcam legislativas na Moldova

Lusa | 28 de Setembro de 2025 às 15:20
Eleições legislativas na Moldova marcadas por acusações de manipulação
Eleições legislativas na Moldova marcadas por acusações de manipulação

Questionado sobre as alegações de ingerência russa nas eleições, Dodon disse que "a interferência foi por parte do Ocidente".

Os lados pró-União Europeia e pró-Rússia trocaram este domingo acusações de manipulação e tentativa de sabotagem das eleições legislativas da Moldova, consideradas decisivas para o futuro do país, candidato à adesão à UE.

Governo e UE denunciam uma "profunda ingerência" de Moscovo, que nega as acusações, enquanto o bloco que apoia uma aproximação à Rússia adverte contra tentativas de fraude dos resultados eleitorais e interferência do Ocidente, numa eleição que decorre sob alta tensão e com resultado incerto.

O líder socialista e um dos cofundadores do Bloco Eleitoral Patriótico (oposição), Igor Dodon, votou este domingo nas eleições legislativas pelo "regresso à normalidade" e contra “o medo, que se tornou a norma”.

Dodon, que foi Presidente da Moldova entre 2016 e 2020 e defende uma aproximação a Moscovo, acredita que a vitória da oposição é "óbvia" e pediu que não se permita que as autoridades anulem as eleições se o resultado não lhes for conveniente.

Questionado sobre as alegações de ingerência russa nas eleições, Dodon disse que "a interferência foi por parte do Ocidente".

Por seu lado, a Presidente Maia Sandu, cujo Partido Ação e Solidariedade (PAS) lidera as sondagens, mas que perdeu terreno desde a vitória esmagadora em 2021, alertou para a "interferência maciça da Rússia" após a votação, dizendo que a Moldova está "em perigo".

Maia Sandu denunciou "centenas de milhões de euros" gastos por Moscovo para comprar votos, orquestrar campanhas de desinformação online e organizar a violência.

Já o primeiro-ministro moldavo, Dorin Recean, também do PAS, encorajou os seus compatriotas a votarem: "Não haverá segunda volta, por isso é tão importante votar hoje" para "proteger a paz e a soberania" do país, apelou.

"Ninguém, por mais poderoso que seja, pode trair o nosso país se todos nós aparecermos e votarmos com disciplina. A nossa força reside num voto justo", defendeu, destacando o trabalho das forças de segurança para evitar tentativas de sabotagem das eleições.

Segundo Igor Botan, diretor do 'think tank' moldavo Adept, a Moldávia "nunca viu tal nível (de interferência estrangeira) numa campanha eleitoral" desde a sua independência em 1991.

Desde 1 de agosto, a polícia moldava realizou mais de 600 buscas relacionadas com tentativas de desestabilização, segundo o Governo, e dezenas de pessoas foram presas.

O serviço de cibersegurança da Moldova informou este domingo que detetou várias tentativas de ataques à infraestrutura eleitoral, "neutralizados em tempo real, sem afetar a disponibilidade ou integridade dos serviços eleitorais".

Moscovo tem negado qualquer forma de interferência.

Com 2,4 milhões de habitantes, a Moldova tem enfrentado várias crises desde a invasão russa à vizinha Ucrânia, em 2022, pondo em risco o Governo pró-europeu de Chisinau, que considera a adesão ao bloco europeu como crucial para se libertar da esfera de influência de Moscovo.

Nestas eleições, com um terço dos votantes indecisos, o voto dos pelo menos 1,2 milhões de emigrantes concentra especial atenção: contribuíram para a reeleição de Maia Sandu, são tradicionalmente pró-UE e o seu voto não está refletido nas sondagens.

Entre os principais destinos dos moldavos, contam-se a Roménia, a Itália, a França e a Alemanha, mas Portugal e Espanha também têm uma grande percentagem daqueles emigrantes.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros moldavo relatou uma votação em massa na diáspora.

"Hoje, milhares de cidadãos da República da Moldova exercem o seu direito de voto no estrangeiro, demonstrando mais uma vez a força e a unidade da nossa diáspora", disse, em comunicado.

De acordo com Chisinau, longas filas de eleitores foram relatadas em cidades como Lisboa, Bucareste, Atenas, Praga, Roma, Nuremberga e Telavive.

Por outro lado, também a votação na região separatista da Transnístria, que se inclina a favor da Rússia, será particularmente observada.

Às 12h00 em Lisboa, a participação era de pouco mais de 30%. Nas últimas eleições legislativas, em 2021, a participação final foi de 52,3%.

Cerca de 20 partidos e candidatos independentes concorrem a 101 lugares no parlamento, mas analistas não excluem uma assembleia fragmentada, sinónimo de instabilidade.

Em 2021, o PAS venceu com 52,8% dos votos contra 27,2% do Bloco Socialista e Comunista.