Agente que disparou sobre Odair Moniz diz ter temido pela vida
Bruno Pinto relatou a perseguição policial que acabou com a morte de Odair.
Passado um ano, o agente Bruno Pinto sentou-se no banco dos réus e não conseguiu conter as lágrimas. Perante a família de Odair, o Polícia de Segurança Pública (PSP) relatou tudo o que aconteceu na noite que tirou a vida a Odair Moniz. Começou por explicar a perseguição policial até ao bairro Cova da Moura.
“Ele queria ir para a esquerda, mas vê-nos e vira à direita. Achámos suspeito e decidimos abordar a viatura. Ele acelerou, voltou a entrar na Cova da Moura e fomos atrás. Quero acrescentar que havia pessoas e quase foram atropeladas por ele. [...] Quase atropelou um grupo de jovens que está sempre ali na parte alta do bairro. Tiveram de se desviar. Acabou por embater num carro parado”, recordou.
O agente da PSP disse que desligaram os rotativos por segurança, para ver se Odair Moniz abrandava. Acrescentou ainda que, quando Odair embateu, o outro agente abriu a porta e fez a abordagem.
"Pensámos que estava ferido, por isso só tirei o bastão extensível. Ele sai [da viatura] ileso e o meu colega diz para ele se deitar no chão. Ele sai com as mãos no ar. Tinha uma ligadura na mão e disse: ‘calma, eu sou doente’”.
Assim que saiu da viatura, Odair rejeitou a arma e o bastão. Foi o que disse Bruno Pinto, perante o coletivo de juízes.
"Tirei as algemas e tentei pôr uma, mas ele vira-se e dá-me um soco na face. [...] Ele pediu ajuda e começou a gritar. Aquele grupo de pessoal ligado ao crime violento e tráfico, que tem apresentações na nossa esquadra, começa a vir na nossa direção”, contou
Foram disparados dois tiros, para tentar parar com as agressões. O agente explicou que a vítima não reagiu ao primeiro disparo.
"Não consigo esquecer o momento em que ele mudou de atitude. Agarrou-nos, [...] ele não reagiu ao primeiro disparo. [...] Só no segundo, vi os olhos dele a fechar. Caiu de barriga para cima, [...] aproximei-me, vi a pulsação e estava a respirar. Nunca desejei este resultado”, acrescentou o agente.
Bruno Pinto esclareceu que reagiu porque optou pela sua vida e pela do colega. Quanto à arma branca, o agente explica que não foi uma preocupação dele. Diz que não a procurou, mas que não teve dúvidas que Odair tinha uma faca.
“Foi alguém que sabia que o bairro lhe dava proteção. Eu tenho de considerar, pela zona que é, que as pessoas o vão ajudar a ele e não a mim. Efetuei os disparos porque ele veio contra mim com uma faca, não foi porque houve um acidente”, disse ainda.
O polícia disse ainda que o bastão e a arma de fogo não seriam usados se Odair Moniz tivesse obedecido à ordem de paragem, já depois da colisão com uma outra viatura.