Carris não exigiu experiência a empresa de manutenção do Elevador da Glória
Em 2019, a Carris abriu concurso público de um milhão de euros, mas não foi exigida experiência mínima aos técnicos que ficariam responsáveis pelo equipamento centenário. De acordo com as informações a que a revista Sábado teve acesso, a empresa que ganhou o concurso era estreante na área.
Uma semana depois da tragédia que abalou Lisboa, chegam novas revelações sobre a forma como foi escolhida a empresa responsável pela manutenção do Elevador da Glória. A investigação aponta falhas desde o início.
Em 2019, a Carris abriu concurso público de um milhão de euros, mas, no caderno de encargos, não foi exigida experiência mínima aos técnicos que ficariam responsáveis pelo equipamento centenário. Foi a ausência de critério que abriu caminho à vitória de uma empresa de serviços técnicos de engenharia, conhecida como “Main”.
Na altura, a empresa com sede em Almada era uma estreante. Até então dedicava-se a serviços de manutenção de piscinas e tratamento de ar no contexto da Covid-19. O código de atividade económica só viria a ser alterado em 2022, já depois de ganhar o primeiro contrato.
No mesmo ano, foi aberto um novo concurso, agora já com a exigência de dois anos mínimos de experiência em manutenção. O critério que encaixava, finalmente, no currículo da “Main”. Mais uma vez, ganhou por apresentar o preço mais baixo.
A “Main” foi criada há 15 anos. Hoje tem 28 funcionários, sede em almada e é detida maioritariamente pelo engenheiro Gustavo Pita Soares. Desde 2017, acumulou pelo menos 33 contratos públicos, num valor superior a quatro milhões de euros.
Este an, o concurso para a manutenção do Elevador da Glória foi cancelado por os valores terem ficado acima do orçamento, mas a Carris não ficou sem solução. Recorreu de novo à “Main”, através de um ajuste direto urgente, válido por cinco meses.
As conclusões preliminares da investigação revelam outro dado: os cabos de ligação tinham um prazo de validade de cinco anos, mas a Carris reduziu esse período. Nos cadernos de encargos consta que a substituição era feita não a cada 1500 dias de funcionamento, como previsto, mas sim a cada 600.