"Está na altura de quebrarmos este ciclo", diz Rui Nunes sobre a transferência de utentes do SNS para o setor privado
"Desejo que as pessoas que querem recorrer ao setor privado o façam por escolha e não por serem obrigadas devido à 'falência' do SNS", acrescentou o médico e Professor Catedrático da Faculdade de Medicina do Porto.
O médico e Professor Catedrático da Faculdade de Medicina do Porto, Rui Nunes, esteve no NOW esta quarta-feira e alertou para o agravamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), destacando os impactos negativos na assistência às grávidas.
Segundo Rui Nunes, a qualidade do SNS tem vindo a decrescer nos últimos anos, uma situação que, conforme afirma, resulta na crescente transferência de doentes para o setor privado.
O professor critica o caminho que o sistema de saúde português está a seguir, alertando para uma possível divisão em dois sistemas: um para as classes mais favorecidas, que poderão pagar por cuidados privados, e um SNS residual, acessível apenas para quem não tem condições financeiras.
"Esta tendência é preocupante e poderá comprometer a universalidade e a equidade do sistema", afirmou.
Rui Nunes apontou Lisboa como um exemplo desta situação que tende a expandir-se para o resto do país, destacando a necessidade urgente de reformar o SNS.
“O que eu desejo é que as pessoas que querem recorrer ao setor privado o façam por escolha e não por serem obrigadas devido à 'falência' do SNS”, reforçou.
A nomeação do novo diretor executivo do SNS deveria, segundo o professor, ser acompanhada de uma revisão do estatuto jurídico da própria direção executiva, que foi criada há apenas dois anos e não tem correspondido às necessidades da população.
Relativamente à linha SNS24, Rui Nunes reconheceu o potencial da medida, mas alertou que, se for implementada de forma isolada, pode agravar ainda mais a situação.
“Se não houver um reforço do recrutamento e retenção de médicos obstetras no SNS, por exemplo, a medida pode transferir mais doentes para o setor privado em vez de melhorar o acesso aos cuidados públicos”, explicou.
Rui Nunes adiantou que, quando forem divulgados os dados de 2024, será possível verificar um agravamento da situação em relação ao ano anterior, e que a tendência continuará a piorar em 2025, caso não se tome uma atitude decisiva para quebrar o "ciclo vicioso" do SNS.
“Está na altura de quebrarmos este ciclo”, concluiu o professor Rui Nunes.