Governo quer aumentar investimento do Japão e destaca "tradição diplomática" da visita à China

Lusa | 05 de Setembro de 2025 às 12:05
Luís Montenegro discursa num evento da Aliança Democrática
Luís Montenegro discursa num evento da Aliança Democrática

A visita do primeiro-ministro português à China acontecerá na semana seguinte ao encontro em Pequim dos dirigentes chinês, Xi Jinping, russo, Vladimir Putin, e norte-coreano, Kim Jong-un, numa parada militar que assinalou o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial no Pacífico.

O Governo quer aumentar o investimento japonês em Portugal e elevar as relações bilaterais com este país, destacando, por outro lado, a "tradição diplomática" das visitas à China, que inclui valorizar a língua e cultura portuguesas em Macau.

Estes são alguns dos objetivos traçados por fonte do gabinete do primeiro-ministro para as visitas oficiais que Luís Montenegro fará na próxima semana à China, onde terá um encontro com o Presidente Xi Jinping e passará pela Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), e ao Japão, com paragens em Tóquio e na Expo Osaka.

A deslocação do primeiro-ministro ao Japão e à exposição de Osaka esteve prevista para maio, mas a demissão do Governo - na sequência da crise política relacionada com a empresa da sua família Spinumviva - e as posteriores eleições antecipadas adiaram a deslocação, o mesmo motivo pelo qual as celebrações do 10 de Junho em Macau com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foram canceladas, acabando por se realizar em Munique e Estugarda, na Alemanha.

De acordo com o gabinete do primeiro-ministro, estava já planeada uma visita à China no segundo semestre, pelo que se juntaram as duas por “razões logísticas”, com uma duração total de cinco dias, sublinhando a mesma fonte que não existiu qualquer problema de “sensibilidade política” com esta opção.

No Japão, o objetivo primeiro é aumentar o investimento deste país em Portugal e tentar diversificá-lo além da indústria automóvel, estando em estudo uma parceria na área do espaço entre o CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento, em Matosinhos) e uma empresa japonesa.

Para tal, o ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, terá “um conjunto de reuniões com investidores japoneses” e Luís Montenegro reunir-se-á na Federação Empresarial Japonesa com cerca de uma dezena de empresas “que têm interesse concreto” em Portugal”, explicou a mesma fonte.

Por outro lado, Portugal quer “elevar o grau do relacionamento político e diplomático com o Japão” para uma parceria estratégia, o que implicará mais mecanismos para as relações bilaterais e um maior intercâmbio cultural.

Em São Bento, destaca-se que “há uma grande coincidência das posições do Japão e da União Europeia em relação à guerra da Ucrânia e no Médio Oriente”.

Já com a China, apesar de não haver essa coincidência de pontos de vista em muitas matérias, fonte do gabinete do primeiro-ministro realça que a visita de Luís Montenegro se integra na “tradição diplomática” de Portugal, já que todos os chefes de Estado e vários primeiros-ministros visitaram este país, a “segunda maior economia do mundo” e membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Nesta parte da visita, destacam-se as reuniões do primeiro-ministro “ao mais alto nível” com o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, com quem se antecipa que Montenegro aborde “o contexto internacional”, e com o seu homólogo, Li Qiang, num encontro em que a guerra na Ucrânia deverá estar em cima da mesa.

Em termos económicos, o objetivo da visita à China é melhorar a balança comercial entre os dois países, “fortemente desequilibrada” a favor de Pequim, devendo ser assinados alguns memorandos de entendimento na área agroalimentar.

“Portugal transmitirá à China que acredita num sistema comercial baseado em regras”, salientou a mesma fonte.

A visita do primeiro-ministro português à China acontecerá na semana seguinte ao encontro em Pequim dos dirigentes chinês, Xi Jinping, russo, Vladimir Putin, e norte-coreano, Kim Jong-un, numa parada militar que assinalou o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial no Pacífico.

Este encontro foi classificado na quarta-feira pela chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, como um "desafio direto" à ordem internacional baseada em regras, que envia “sinais antiocidentais”.

Já a rápida passagem de Luís Montenegro por Macau, um território que Portugal administrou até 1999, é enquadrada como um sinal dado à China de que o país continua a valorizar a presença portuguesa na região, sobretudo nas dimensões da língua e da cultura, e de que “são as singularidades” da RAEM que a tornam “um caso de sucesso”.