Alojamento
Portugal não consegue garantir o número de quartos públicos suficiente para cobrir todos os pedidos dos estudantes, o que obriga parte dos estudantes a ter de suportar um quarto que pode chegar a atingir os 700 euros, dependendo da zona.
São quase 200 mil os alunos deslocados em todo o país. A poucos dias do arranque do ano letivo, milhares de estudantes continuam sem conseguir encontrar uma casa onde ficar.
Sair de casa é um passo que traz receios e deixar a família para trás para cumprir um sonho. Mas se os receios vinham da emancipação, agora a insegurança tornou-se maior. A procura incessante por uma casa que esteja dentro do orçamento familiar está no topo da lista de preocupações dos universitários.
As residências públicas estão lotadas e a classe média fica de fora, já que os quartos disponíveis são atribuídos, sobretudo, a bolseiros.
Nos últimos dez anos, o número de bolseiros do ensino superior cresceu de forma significativa, sobretudo no Norte e no Centro do país. Estas duas regiões concentram hoje a maior parte dos apoios, com o Norte a ultrapassar os 40 mil bolseiros e o Centro a rondar os 20 mil, quando em 2013/14 estavam bastante abaixo destes valores. Já na Área Metropolitana de Lisboa, bem como no Alentejo, Algarve, Madeira e Açores, o crescimento foi muito mais moderado, mantendo-se os números relativamente estáveis.
No entanto, este aumento do número de bolsas não corresponde a uma melhoria das condições financeiras dos estudantes. Pelo contrário. O valor real da bolsa média tem vindo a cair de forma contínua ao longo da última década. Em 2013/14, a bolsa anual tinha um valor próximo dos 2200 euros, mas em 2023/24 não chega aos 1200. Quando se desconta o pagamento das propinas, o valor líquido disponível desce ainda mais drasticamente, passando de cerca de 1000 euros há dez anos para menos de 500 euros atualmente.
Esta quebra no poder de compra das bolsas tem consequências diretas na vida académica. Uma grande parte dos estudantes reconhece que as dificuldades financeiras têm repercussões na saúde mental. Muitos estudantes admitem sentir-se um peso para as famílias. Além disso, não são poucos os que já ponderaram abandonar o ensino superior por falta de condições económicas.
Há cerca de 50 mil alunos carenciados, mas estão disponíveis apenas cerca de 17 mil camas na rede pública, o que acaba por fazer com que a maioria dos estudantes tenha de procurar alternativas no mercado privado, onde os preços não param de subir.
Com os preços das rendas a aumentar, a pressão sobre as famílias também aumenta.
As rendas rondam entre os 350 euros e os 400 euros na maior parte do país, um valor que para muitas famílias é insustentável.
Em Aveiro, por exemplo, valores de 350 euros já sufocam muitos pais.
Em cidades como Lisboa e Porto os preços podem chegar até aos 700 euros. Um valor que assusta quando comparado com o ordenado mínimo, 870 euros. Para algumas famílias, colocar um filho numa destas cidades implica viver com cerca de 170 euros até ao final do mês.
Além da inflação do setor, a atração dos alugueres a curto prazo trouxe consigo outro problema. Metade dos alugueres são feitos sem emissão de recibos, uma situação que impede o acesso a apoios para pagar as rendas, mas que atrai muitos dos arrendatários.
O setor imobiliários diz que a tendência é para que os valores continuem a aumentar em 2026, com subidas médias de 9% nas principais cidades universitárias.
Sem solução à vista, há estudantes obrigados a percorrer diariamente dezenas de quilómetros no percurso casa/ universidade.
O ensino superior continua a ser um sonho para milhares. Mas para muitos, encontrar um teto onde dormir está a tornar-se nu verdadeiro pesadelo.
No âmbito do Plano Nacional para o alojamento do Ensino Superior está prevista a abertura no país de nove novas residências públicas, mas isso só deverá ocorrer no próximo ano.
Em Portugal milhares de jovens vivem numa corda bamba entre prosseguir os estudos ou desistir por não conseguirem suportar os custos de estudar no país.