Médio Oriente: Número de mortos em Gaza pode ser dez vezes superior ao estimado

Lusa | 15 de Setembro de 2025 às 16:15
Ruínas em Gaza após bombardeamentos levantam preocupações sobre o número real de vítimas
Ruínas em Gaza após bombardeamentos levantam preocupações sobre o número real de vítimas

A ONU declarou a região da cidade de Gaza como em situação de fome, quando Israel tem em marcha um plano militar para ocupar a capital do território e expulsar centenas de milhares de habitantes, além de prever o desarmamento do Hamas e a recuperação dos reféns, antes de entregar o enclave a uma gestão civil não hostil a Telavive.

A relatora da ONU para os territórios palestinianos ocupados afirmou esta segunda-feira que o número de mortos na guerra de Gaza é muito superior a 65 mil e pode rondar os 680 mil.

Em conferência de imprensa, Francesca Albanese declarou que a população da Faixa de Gaza "tem suportado" 710 dias de "horror absoluto" e "65 mil é o número de palestinianos alegadamente mortos, dos quais mais de 75% são mulheres e crianças".

"Na verdade, devemos começar a pensar em 680 mil, porque este é o número que alguns académicos e investigadores apontam como a verdadeira cifra de mortos em Gaza", afirmou.

Albanese referiu que meios científicos especializados e até investigadores israelitas apontam para esta estimativa com base em cálculos sobre o nível de destruição no território e o número de pessoas que aparentam ainda viver ali.

“Se este número se confirmar, 380 mil serão crianças com menos de 5 anos”, sublinhou.

Face à intensidade dos bombardeamentos israelitas, que destruíram praticamente toda a Faixa de Gaza, “levará anos a verificar o número verdadeiro de vítimas e a recuperar os restos mortais desta catástrofe, como aconteceu na Bósnia”, acrescentou a relatora, uma das primeiras figuras públicas a afirmar que está a ser cometido um genocídio em Gaza.

De nacionalidade italiana, Albanese foi sancionada pelos Estados Unidos devido à sua posição e, entre outras restrições, não pode viajar a Nova Iorque para apresentar o seu relatório à Assembleia-geral da ONU, salvo se obtiver uma isenção de última hora.

Sobre a nova vaga de ataques israelitas na capital do enclave, a cidade de Gaza, Albanese afirmou que Israel está a utilizar “armas não convencionais que nunca se tinha visto, bem como armamento recentemente montado, que destrói bairros inteiros e o que resta dos edifícios onde a população procura refúgio”.

A relatora disse que este último assalto tem como razão o facto de ser “o último pedaço de terra onde a guerra deveria ser impossível antes de avançar com a limpeza étnica e dirigir-se, provavelmente, à Cisjordânia”.

Relativamente à Cisjordânia, Albanese sustentou que a população enfrenta uma “pressão intensificada”, com mais de mil palestinianos mortos desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, incluindo 212 crianças, além do aumento de assassínios seletivos, da destruição de campos de refugiados e do deslocamento forçado de 40 mil civis.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque sem precedentes de 7 de outubro 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas no sul do Israel, no qual foram mortas 1200 pessoas e 251 foram feitas reféns.

As autoridades israelitas estimam que 48 reféns, dos quais 20 ainda vivos, estão detidos na Faixa de Gaza.

A operação israelita no enclave, governado pelo Hamas desde 2007, já causou mais de 64 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, e um desastre humanitário sem precedentes na região.

A ONU declarou a região da cidade de Gaza como em situação de fome, quando Israel tem em marcha um plano militar para ocupar a capital do território e expulsar centenas de milhares de habitantes, além de prever o desarmamento do Hamas e a recuperação dos reféns, antes de entregar o enclave a uma gestão civil não hostil a Telavive.