Netanyahu atribui projeto de anexação da Cisjordânia a "provocação da oposição"

Lusa | 23 de Outubro de 2025 às 18:20
Benjamin Netanyahu
Benjamin Netanyahu FOTO: AP

Antes de deixar Israel na manhã desta quinta-feira, Vance disse que se sentiu pessoalmente insultado pela votação, depois de a administração de Donald Trump ter reiterado em várias ocasiões que a anexação não iria acontecer.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, atribuiu esta quinta-feira a aprovação preliminar no parlamento da anexação da Cisjordânia a "uma provocação deliberada" da oposição, com vista a perturbar a visita do vice-presidente norte-americano, JD Vance, a Israel.

"A votação do Knesset [parlamento] sobre a anexação foi uma provocação política deliberada da oposição para semear a discórdia durante a visita", declarou o chefe do Governo israelita num comunicado divulgado pelo seu gabinete.

Segundo Netanyahu, as iniciativas legislativas da anexação da Cisjordânia e outra respeitante ao colonato de Maale Adumim, aprovadas na primeira de três leituras na quarta-feira, "foram patrocinadas por membros da oposição".

No final de uma visita a Israel, o vice-presidente norte-americano classificou estas propostas como um "insulto" e um "movimento político estúpido", em pleno cessar-fogo na Faixa de Gaza, que interrompeu mais de dois anos de conflito entre Israel e os islamitas do Hamas.

O líder da Casa Branca, Donald Trump, que foi o principal impulsionador da trégua na Faixa de Gaza, avisou pelo seu lado que Israel "perderá o apoio de Washington" se avançar com a anexação da Cisjordânia, indicando que deu a sua palavra aos países árabes de que isso não aconteceria.

No comunicado do seu gabinete, Benjamin Netanyahu argumentou que o seu partido, Likud, e as fações ultraconservadoras que compõem a coligação governamental não se manifestaram a favor dos dois projetos de lei preliminares, que ainda necessitam de novas votações.

O projeto de lei de anexação da Cisjordânia foi aprovado com 25 votos a favor e 24 contra e o projeto de lei de anexação do colonato de Maale Adumim, recebeu o apoio de 32 deputados contra nove desfavoráveis.

No entanto, segundo a imprensa israelita, membros de partidos essenciais para o equilíbrio da coligação governamental, como o Sionismo Religioso (liderado pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich) e o Poder Judaico (dirigido pelo ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir), apoiaram os projetos.

Na sua declaração, Netanyahu reconheceu que um dos seus apoiantes, Yudi Edelstein, votou a favor da anexação, apesar dos apelos do Likud para se abster, e, de acordo com o jornal The Israel Times, acabou por ser afastado do seu cargo na Comissão de Defesa e Relações Externas do Knesset.

"Sem o apoio do Likud, é pouco provável que estes projetos cheguem a algum lado", concluiu o primeiro-ministro.

Antes de deixar Israel na manhã desta quinta-feira, Vance disse que se sentiu pessoalmente insultado pela votação, depois de a administração de Donald Trump ter reiterado em várias ocasiões que a anexação não iria acontecer.

"A política da administração Trump é de que a Cisjordânia não será anexada por Israel. Essa continuará a ser a nossa política", insistiu o dirigente norte-americano antes de abandonar Israel, onde entretanto chegou o chefe da diplomacia de Washington, Marco Rubio.

Em setembro, o ministro ultranacionalista Bezalel Smotrich apresentou um plano para Israel anexar 82% da Cisjordânia, em resposta à vaga de reconhecimentos internacionais do Estado da Palestina.

Na mesma altura, o Governo israelita tinha aprovado um plano para expandir o colonato de Maale Adumim, nas proximidades de Jerusalém Oriental ocupada, com a construção de milhares de casas em terras palestinianas.

"Eles falarão de um sonho palestiniano, nós continuaremos a construir uma realidade judaica", advertiu Smotrich na ocasião.

Na assinatura do acordo-quadro para a expansão deste colonato com o presidente da câmara de Maale Adumim, Netanyahu declarou: "Esta terra é nossa".

Do mesmo modo, respondeu às vagas de reconhecimento do Estado Palestiniano, afirmando que isso nunca iria acontecer.

As pretensões de soberania palestiniana podem ser ameaçadas com a concretização do chamado projeto E1 e construção de milhares de casas para colonos israelitas, que na prática dividiria a Cisjordânia em dois.

A colonização da Cisjordânia, que faz fronteira com a Jordânia, tem continuado sob todos os governos israelitas, tanto de esquerda como de direita, desde 1967.

Num comunicado divulgado na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia condenou veementemente as votações no Knesset, que descreveu como "uma flagrante violação do direito internacional e um grave ataque à solução de dois Estados".

Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina, sediado em Ramallah, afirmou "rejeitar firmemente as tentativas do Knesset" de anexar terras palestinianas.

O ministério observou que os territórios palestinianos ocupados na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, constituem "uma única unidade geográfica sobre a qual Israel não tem soberania".

Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, mais de mil palestinianos morreram na Cisjordânia, de acordo com números da ONU, em episódios de violência envolvendo militares e colonos radicais israelitas.