
O polícia defendeu ainda que existia o risco de os próprios agentes serem atingidos pelo gás-pimenta.
O segundo polícia da patrulha que, em 21 de outubro de 2024, tentou deter Odair Moniz disse esta quarta-feira em julgamento que não recorreu a gás-pimenta antes de o colega balear mortalmente o cabo-verdiano porque se esqueceu.
"Não me lembrei de retirar o gás-pimenta", afirmou, na condição de testemunha, no Tribunal Central Criminal de Sintra, Rui Machado, ressalvando que atualmente considera que tal não teria ajudado a pôr fim à resistência de Odair Moniz, de 43 anos, a ser algemado.
Em causa está o facto, justificou, de o morador no Bairro da Zambujal, também na Amadora, estar então a comportar-se de forma agressiva e de existir um grupo de populares a dirigir-se na direção da patrulha.
O polícia defendeu ainda que existia o risco de os próprios agentes serem atingidos pelo gás-pimenta.
Rui Machado, de 22 anos, corroborou no essencial a versão dos acontecimentos contada durante a manhã pelo autor dos disparos mortais e único arguido no processo, Bruno Pinto, mas assegurou que não assistiu ao primeiro tiro, que atingiu Odair Moniz na zona do tórax.
"Viro-me de costas para os dois [para apanhar o meu rádio do chão] e oiço um disparo atrás de mim. Não sabia quem tinha sido atingido", relatou, adiantando que quando voltou a virar-se, viu o cidadão cabo-verdiano "numa posição de ataque", sem mencionar a existência de qualquer faca, como foi alegado por Bruno Pinto para justificar os disparos mortais.
Rui Machado está acusado num outro processo por falsidade de testemunho sobre uma arma branca que foi posteriormente encontrada no local do crime.
No processo cujo julgamento começou esta quarta-ferira, Bruno Pinto, de 28 anos, está acusado de homicídio, incorre numa pena de oito a 16 anos de prisão e na acusação do Ministério Público não é referido qualquer ataque com faca.
O agente da PSP — em liberdade e suspenso de funções — enfrenta ainda um pedido de indemnização civil de mais de 200 mil euros feito pela família da vítima.
Na tarde desta quarta-feira, a viúva de Odair Moniz garantiu que o marido era "o pilar da casa", incluindo financeiramente, e que atualmente tem um rendimento mensal de cerca de 400 euros para si e os dois filhos, de 21 e quatro anos.
Num depoimento na ausência do arguido, Ana Patrícia Moniz, de 37 anos e ajudante de cozinha, precisou que desde a morte do marido está de baixa médica devido a uma depressão, que o filho mais velho, antes falador e bem-disposto, até em casa "é difícil de sorrir", e que o mais novo desliga a televisão sempre que vê notícias sobre o pai e pergunta "porquê, porquê, porquê".
Sobre a noite em que Odair Moniz foi morto, a mulher contou que o marido saiu de casa pelas 20h30 de 20 de outubro de 2024 a dizer que já voltava e nunca regressou, não conseguindo encontrar uma explicação para que, pelas 05h25 do dia seguinte, este se encontrasse nas imediações da Cova da Moura, onde acabaria por ser baleado pelo agente da PSP após uma perseguição originada por uma infração rodoviária.
A próxima sessão do julgamento está agendada para 29 de outubro, no Tribunal Central Criminal de Sintra.