Substituição do cabo do Elevador da Glória pode estar na origem do acidente

O cabo original que ligava o ascensor era de aço e foi substituído por um com núcleo de plástico.

O registo do Elevador da Glória era imaculado há 140 anos. No passado dia 3 de setembro tudo mudou. O ascensor que todos os dias subia uma das ruas mais históricas de Lisboa, usado tanto por locais como por turistas descarrilou e mudou para sempre a história da capital. Foi uma tragédia que chegou aos quatro cantos do mundo. 

Depois de muita procura por uma resposta, os especialistas já avançaram com possíveis explicações para a fatalidade que tirou a vida a 16 pessoas. 

Os técnicos do Instituto Superior Técnico, depois de avaliarem o relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, apontaram para a mudança do cabo que ligava o ascensor. 

Até há seis anos o cabo era de aço, mas passou a ser constituído por um núcleo de fibra, ou seja, de plástico. 

Ao “Expresso”, um engenheiro de materiais explicou que "existiu efetivamente a troca do cabo que era de aço e passou a ser um de alma de fibra [possivelmente polimérica], mudando o interior [core] para uma rigidez muito inferior, o que implica uma mudança de sistema". 

Em causa, não está a resistência em si do cabo, mas sim a resistência quando é apertada num torno, pois era assim que o cabo era fixado no trambolho. Como tal, num cabo com alma de fibra, a amarração teria de ser feita com um sistema diferente. Ao longo do tempo, e com estas características, o cabo terá perdido resistência ao aperto feito no trambolho. Para o engenheiro, um cabo com um núcleo de plástico começa a deformar-se e, a certa altura, já não está apertado. 

A compatibilidade entre os materiais é diferente do que se fosse aço com aço. Existe o fator do tempo, dilatações e vibrações, que têm de ir sendo verificadas. Contudo, a empresa contratada pela Carris para fazer a manutenção dos ascensores de Lisboa realizou uma operação noturna, menos de 24 horas antes do acidente, que incluiu claramente uma inspeção ao ponto crítico onde o cabo de ligação acabou por soltar-se da cabina de passageiros, levando a que descarrilasse.